quarta-feira, agosto 31, 2005

Esquisito

É conversar ao telefone
Com um amor de muitos anos
Que passou com o tempo a mornos panos
E se chamar pelo primeiro nome
Não tem como, não tem mesmo
Segurar nossa risada maldade
Quando o olho atinge a esmo
Um belo tombo na praça da cidade
Ontem, sorri sozinho.
Te tinha comigo, mas sorrir eu sorri sozinho.

sábado, agosto 27, 2005

Homenzarrão

Posso até ouvir minha vó dizendo
"Onde já se viu? Um baita homenzarrão desses, chorando?!"
É, precisei da ajuda dos anos e das moças
Mas hoje eu choro até cantando
Minha música é como uma foto virada
Tem gente que gira a cabeça pra ouvir
Tem gente que escuta assim mesmo, errada

Traças

traçando livros velhos com gosto de sótão

sexta-feira, agosto 26, 2005

Origem do beijo

As duas primeiras bocas que se tocaram eram cegas
Pensaram que era assim desde sempre
Hoje, penso eu

As duas primeiras bocas que se sentiram eram nuas
Ousaram despir seus lábios
Hoje, ouso eu

Pras duas primeiras bocas tudo era novo
Embora num tom sempre-existente
Hoje ainda é assim, digo eu

quinta-feira, agosto 25, 2005

Sorte de principiante

Por sorte de principiante
Tive um instante de voracidade
E por azar de quem tudo viveu
Terminei sem o que julgava meu

Eu sou assim:
Principiante que já viu tudo
Na borda do mundo virei e segui,
Dessa vez sem capa, espada ou escudo

domingo, agosto 21, 2005

Depois da lesma, me sinto impelido
A escrever algo bem bonitinho
Rimando diminutivos, assim mesmo
Bobo como um ursinho
Pra acabar com o nojo desse povo

quinta-feira, agosto 18, 2005

Beijo da Lesma

Como é intrigante quando elas saem todas e nem levam guarda-chuva! Que sede toda é essa que elas tem?

quarta-feira, agosto 17, 2005

Em dias esquisitos...

...a vida imita marte

terça-feira, agosto 16, 2005

Imagens

Se a tela da janela não tivesse lá
Entraria ela, do ultimo galho do
Carvalho, equilibrando seu nada-pesar
E voaria em círculos no meu quarto

Se pendurada na parede estivesse
E não precisasse de mim pra soar
Tão doce e choramingona às vezes
A guitarra tocaria algo que eu não sei
E eu só deitaria no chão do meu quarto

Se o espaço fosse bastante dançaria
Um tango no meu quarto acompanhado por ela
E depois do terceiro ato passaríamos ao carvalho
E depois para as estrelas ou ao shopping center
Que se enxerga do meu quarto

E se ela entrasse de verdade, invejaria sua asa
Mas mesmo assim a casa é sua. Imaginem só
Que bonito uma visita como ela em minha
Janela adentrando do infinito?

quarta-feira, agosto 10, 2005

Hoje não vou escrever uma palavra
Já tive todas e lia e chorava

segunda-feira, agosto 08, 2005

Chove, vidro embaça
Não se vê quem passa, não há pressa
Alcançamos o mirante, cidade apagada
Vejo nada, finalmente: um instante

quinta-feira, agosto 04, 2005

O Vento II

Eu sou o vento, já disse aqui
E se hoje quis criar raiz
Me enterro de cabeça em ti
Nada em troca um dia eu quis

Mas continuo soprando, sei
Continuo vento, que voa, que uiva, que berra
Se em teu solo não encontro colo
Não há raiz que prenda o caule sem terra