terça-feira, janeiro 19, 1999

Trás-os-Montes

Procuro por alguma lei que faça você vir pra cá
O tempo passou e me fez voltar a sonhar

Nunca, nunca, nunca me vi assim
Podendo trocar a vida pelos montes

Que ensinam a viver perto do céu
Que me tiram o peso e a necessidade de sofrer, ou
então crescer
Que me fazem saber que pra mim só vive
Você, as nuvens e os montes
Você, a chuva e os montes
Você e os montes

Muralhas não me levam ao topo do que quero para
mim
Sinto que posso me esconder no seu jardim

Nada, nada, nada, nada, nada para mim
Troca você e a vida pelos montes

* Excrito em 1999, na ETC. Título de Giancarlo Silvestrin
Ríspida emoção
Que jaz em meu coração
Foste esperança, foste razão
Foste montanha, foste vulcão
Fizeste sofrer, fizeste sentir
Quiseste amar, não deves mentir
Pois quando dela vier despedir
Incapaz serás de sorrir

* Escrito no ônibus, 1999
Ria, continuava a tarde a dançar
Vivia sempre a festejar
Não tinha cordas que o amarrassem
A nada

Ria, até chegar seu tempo negro
Sentia o peso que chegou
Não tinha nada que atenuasse
O peso da paixão

Ria, mo...ria

* Escrito em 1999, na ETC, com direito a pausa para ir ao banheiro

Quero ser seu álibi

Um dia, quando for a hora,
Quando tudo estiver pronto,
Você vai lembrar de mim

Os planos já preparados,
Mas falta algo pra pensar
No momento de agir
Aonde você vai estar?
Na cena do crime,
Na rua, ou no carro?

Você pode estar, também,
Em algum lugar aqui,
Dentro de mim

Posso ser seu alibi
Garantido é que estará
No lugar certo, na hora certa
Com a pessoa...certa

* Escrito em 1999, no apartamento de Santa Tereza, para ser uma letra de música
Queria eu, nessas horas, mover-me para uma ilha,
Deixando pra traz todas as coisas boas da vida
Que só trazem problemas, experiência perdida

Putz! Porque a vida tem de ser dividida
em lotes, com, talvez, data e hora de entrega
Vale esperar, então, a entrega atrasada de
uma encomenda de vida, devidamente enviada
para o endereço errado?

Seria como a casca que sai da fruta
antes de ser saboreada (Será que ela não viu o
bicho?). Surpresas fazem querermos surpresas, assim
como quando o ônibus passa e esperamos que
seja o nosso (Será que ele não viu a poça?)

* Escrito em mais uma das aulas da Eunice, 1999
"Às vezes é difícil conciliar, em meio a tantos problemas, uma sensação tão forte, e ao mesmo tempo tão incompreendida por mim, deixando tanto a desejar que tenho medo de desistir"

Tantas vezes desisti
Ao ver a realidade
Nada restou após a morte
Além da maturidade

Passo a passo sobre o sol
Caminhando em fogo ardente
Louvando a quem me quer
Esperando o que está ausente

Cada passo em minha vida
Calmamente articulado
Pra então me vir alguém
E mostrar que estava errado

O improvável e imprevisto
O incerto, incalculado
Tudo isso me cai agora
Como se Ele soubesse o meu fardo

Nada mais me importa, nada mais!
Nada mais me importa, não!

Volto a viver a vida assim
Esquecendo o que tenho visto
Aprendendo a aproveitar
E entender o imprevisto

* Escrito em 1999, na ETC

Nova Tabula

America, veja o que está
Veja o que ficou, o que passou

Vide o livro
Vide o mapa
Nova Tabula

Escrita em tinta e remoldada anos
depois da lembrança expelida de onde
viemos

O tipo decisivo de ilusão enfrenta a
morte esquecendo cada passo estruturado há muito
para ser lembrado

Mar del Zur
Mar del Nort
Nova Tabula
Cada Fábula escrita por aqueles que não
Querem ou não sabem a cor da pena.

A pena...apenas

* Escrito em 1999, na ETC, sobre um caderno meu
Lucidez? Tudo depende
da diferença entre a
carioteca e os arcos
côngruos

* Escrito em 1999, no caderno da ETC, em alguma aula da professora Eunice

Lúcia

Lúcia, ontem, me fez voltar àqueles tempos
Da morte por amor, nos braços dos amantes

Lúcia anda solta por aí
Espalhando graça e s'espelhando na massa
Colhendo os frutos do verdadeiro amor

Todos vêem ela chegar
Ao menos uma vez na vida
E aqueles que não a conhecem,
Passam a vida esperando por Lúcia

Vida de sofrer só é vida com Lúcia
Vida de viver só se embebida em Lúcia
Linda de morrer...só mesmo Lúcia

* Escrito em 1999

Luanda

Luta armada entre pacifistas
Nunca me agrada nem me imobiliza
Lunáticos pela calçada
Andando no meio do nada
Voando sem dizer
Nada

Lavanda, Lauranda, se manda em Luanda
Dançante dança dos negros da banda
Política situação desagrada o nosso cidadão
Que na guerra vê a paz e não quero nada mais

Vou fugir pra Luanda em 1650, vou voltar atrás
Acho que não ganho paz
Mas acho, também, que não ganho mais
do que aquilo que posso conseguir em qualquer lugar
que seja também Luanda

"Dindindim a luandê...
A Luanda Luanda Luandê
Dindindim a Luandê"

Gente estabanada não consegue quase nada
Se tentar provar (errada) que de errada não tem nada
Superfície estruturada de uma vida desgraçada
Se banhada em lavanda talvez leve pra Luanda

Dindindim a Luandêro nunca pude ver primeiro
Nem sequer sentir o cheiro
da senzala - abala - a constituição da família brasileira
que sempre foi a feira em qualquer lugar
que não seja Luanda

"Dindindim a luandê...
A Luanda Luanda Luandê
Dindindim a Luandê"

* Escrito na casa de praia do Raul, em 1999 ou 2000(?)

Livro dos Guarda-Chuvas

O livro + vendido de todos é o
livro dos guarda-chuvas

Entre todas as setecentas
livrarias existentes no Brasil,
ele só não vende no nordeste

Cabra da Peste
Cabra da Peste
Cabra da Peste

O livro + vendido entre os pirralhos
da cidade é, sem dúvidas, o livro
dos guarda-chuvas

Entre as senhoras, porém, não me impressiona
nada que o livro das sombrinhas seja ainda mais vendido

Olho de Vidro
Olho de Vidro
Olho de Vidro

* Escrito nonsensemente em 1999, na ETC. Era pra ser uma referência ao fato de sempre chover na Feira do Livro
“Eu descobri que te amo
ao pensar em você no
acordar e sorrir”

* Escrito em 1999, no caderno da ETC, sobre um momento na praia da Gamboa/SC
Desde que, em ti, perdi a confiança
Amo-te diferente
Desde que descobri não te amar
Cada vez mais por ti prezarei
Desde que escrevi esta idéia
Muitas vezes de idéia já mudei

* Escrito em 1999, no caderno da ETC
Bolha de sabão programada por computação
Tele-entrega chamuscada automatizada ou não
Posso ligar de Java e esquecer o pão no forno
Mas como vou saber se quero leite quente ou morno

Nova era, mas não era
Uma odisséia o tempo todo
Um monolito, um pirulito
Sempre segurando um grito

Nova era, mas não era
Uma odisséia o tempo todo
Um monolito, uma explosão
Hipercomunicação

* Escrito em 1999, na ETC. Tentativa podre de uma daqueles poemas Hi-Tech
"A espada na bigorna espera
que alguém tenha a força
de tentar retirá-la"

* Escrito em 1999, no caderno da ETC

sexta-feira, janeiro 01, 1999

Pensa bem antes de começar uma guerra
Pensa bem ao quedar de paixão
Pois nada demora na terra
Por mais que tenhamos na mão
Eis que paraste sofrendo
Ou eis o som da explosão

* Escrito em 1999, provavelmente no ônibus